30.10.07

 
Estou velho. Estou sábio. Estou cansado. Estou-me cagando. O que é que querem? São quatro dados adquiridos para um só direito reconhecido: o de estar ou ser; muitas vezes nem sempre o mesmo e quando a língua impõe diferenças em ambos significantes, pior ainda. Velho porque as rugas, barriga, cabelos e ferrugens o ditam. Sábio porque o ego já me cabe no bolso pequenino, o das calças, aquele destinado para as moedas. Cansado porque penso demais e nem sempre acertadamente, ao ponto de pensar que o esteja de facto pelo facto de pensar demais. E cagando porque é elementar esse estado em mim desde jovem. Mas eu explico: nada disto é deveras importante, porque importante é apenas poder dizer isto. E digo-o aliviado por isso mesmo. Alguma coisa tem de ter importância. Estar velho, sábio e cansado é irrelevante para mim. Estar-me cagando, por outro lado, é duma pertinência intransmissível sendo condição acentuada do meu modo de estar vivo. Nem a pátria de anjos (copyright para Joaquim Pessoa) jamais aconteceu, nem o inferno vai eclodir de repente mas apenas em conta-corrente de múltiplas e agudas prestações da realidade. Há um mês que não vinha aqui. Espero voltar mais assiduamente. Fiquem por aí, onde estão obviamente.

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