14.1.07

 
Cara de bacalhau

Eu subversivo às três e meia da tarde conjugando o verbo estar em presente entediante que a ironia já não me assenta bem embora o sarcasmo seja um bom paliativo. Nada do que me digas demoverá a merda das certezas que tenho e depois disso mesmo ficar tudo como está o mais triste é não conseguir enlouquecer nem poder sair de mim. Sei por força das circunstâncias que as vicissitudes me amoleceram qualquer parte interna incerta que não descubro mais. Que enquanto novo me acharam graça não podendo por força social vir a ser taralhouco em velho. Com bengala no entanto porei ordem no meu caminho não pelo suporte e apoio mas pela vibração ondulatória e circulante vociferando em pleno ar. Mais valia ser rico e deveras saudável para que o champagne não parasse de correr e até afundasse os meus movimentos na banheira. Já não sei por vezes o significado da palavra idiossincrasia mas creio que a mesma me assente peculiarmente nos meus modos de estrebuchar face aos infernos privados circundantes. A autocracia do tempo reduz-me a barba a mais um empecilho diário que com embaraço me desfaço pudera ser o mesmo com as sacanas das depressões. Raramente me estorvo com coisas que sejam somente coisas quanto às pessoas será muito diferente bem sei. A matéria nunca foi o meu forte e a alma está cansada mormente sendo eu tão gastronómico ao ponto de por imperativo de purificação sonhar refeições. O vinho contudo continua a sua sacra saga e abençoado seja eu pelos contornos do ritual. O que me irrita é o pó. A roupa suja nem tanto. Talvez me case com uma lavadeira. Mas não era esta afinal a procurada cadência vital. Ora de novo... Tenho basicamente nada para dizer e como tal escrevo. Porque não sei talvez seja tempo de aprender. Quatro licenciaturas três mestrados dois orgasmos e um ponto final. Gargarejar realidades avulso e emborcar sonhos a peso que toda a função deste processo também pode suplantar o passado. Um rodopio de mudanças seria bem-vindo caso fosse fruto do mais límpido acaso que as intenções são dúbias e matreiras e a condição humana rasteira propósitos mais altos e estatela rotas no chão roto que pisamos. Em credo cedo por devoção à beleza e cedo caí dos dogmas já não aperaltado pois a vida explicou-me sempre o brotar das novidades e das mutações. Tudo poderá fazer sentido talvez e se assim não for lá terá outro sentido também. Resta agradecer a tacanhez desta pátria à beira-TV plantada e assim como assim agradecimentos umbilicais à minha burrice que por aqui vai ficando estendida ao sol. Ah! a suavidade da sesta ibérica para a digestão lusitana.

1.1.07

 
2007 noves fora nada

Recomecemos. E já de repente que o ano está fresquinho e tanta frescura merece um post. Que o estrondo dos foguetes ainda brilha a preceito nos tímpanos e a sua luz ainda ecoa com fulgor nas íris. Supostamente terei de agradecer ao Dr. Brígido a aguardente velha em versão CR&F e a sua vertente embaladora que me permitiu assistir boquiaberto ao fogo de artifício. Nunca fui muito dado a esses trâmites das passagens de ano mas desta vez saí à rua. Obviamente o ano passaria à mesma caso ficasse em casa. É que vistas bem as coisas, isto do ano passar não tem muito que se lhe diga. Excepto para o povo. Uma noite de empanturramento e emborcação desmesuradas seguido de euforia histérica e vómitos históricos, onde ninguém tem a noção que estão todos um ano mais velhos e os inevitáveis aumentos vêm já a seguir. Mas o povo veio ao Algarve. Não se sabe muito bem se em catarse existencial e afogamento económico ou se pacoviamente pavoneando-se em demanda de ribalta. Seja lá como for, a coisa por aqui encheu. Muito agradecidos, ou mais ou menos assim-assim, já que o que transbordou mesmo foram os supermercados onde fedelhos imberbes compravam grades de cerveja e hectolitros de álcool e nada mais comestível, que a festa é cara e a vida é dura. Nos bolsos restava então apenas uma nota de cinco para o único shot da noite no bar. E foi vê-los urrando e arrotando até chegarem à fase final do esmurrando e gregoriando. Ah! a festa com f imenso. Encantador este moderníssimo sentido de divertimento. Este imenso júbilo que dá mais sentido à vida e que eu perderia se tivesse ficado em casa. E daqui p’rá frente do que eu gosto mesmo é dos saldos. Em Janeiro poupa dinheiro que em Fevereiro voltas ao mealheiro!
Um bom ano para todos e felicidades para os que não falirem ou ficarem no desemprego.

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