26.11.06

 
Pois hoje por força de vida e de morte, abandono o estado de letargia em que me encontrava, quase a caminho da cíclica hibernação, para lançar um adeus a quem partiu - e quem parte tudo pode, restando-nos a nós a saudade e o momento do aceno... sendo, contudo e inevitavelmente, as palavras que lhe deixo de sua própria autoria espelhando uma emoção também sua:

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny





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