14.5.08
Ilustríssimo Dr. José Hermano Saraiva; vi, registei e reflecti, o seu programa televisivo acerca da terra de Albufeira. Quanto às bojardas emitidas com fundamento e duma maneira eloquente estamos definitivamente de acordo. Quanto à cura do cancro existente nesta Albufeira turística e quanto ao seu conhecimento sobre o turismo em si, já não posso dizer o mesmo. O problema no entanto é fruto de uma só coisa: a existência de labregos (tanto para aquilo em que concordo consigo como para aquilo em que discordo). Mas eu passo a explicar; foram labregos-construtores-civis, oriundos não se sabe bem de onde, que ergueram todas as aberrações arquitectónicas visíveis, com o aval óbvio de labregos-com-cifrões-nos-olhos, oriundos de estirpes incertas, os quais convenceram os indígenas locais, a troco de meia dúzia de pepitas e de uma pomposa ideia de progresso. Registe-se neste ponto que os últimos citados são os menos responsáveis, pois o resto do país também se encontra à venda pela melhor oferta. Mas adiante, ou antes não adianta, já que os ocupantes sazonais das citadas aberrações arquitectónicas são o supra-sumo dos labregos importados, ou sejam a tal casta que com um punhado de libras vem arrotar a Sagres (a cerveja), sem nunca ir à ponta do mesmo nome e desconhecendo quem foi o Infante. Este é o retrato fiel dos turistas que temos, embora não sirva de desculpa para coisa alguma. Aqui ao lado, na vizinha Espanha, de um peido sem pujança brota um reluzente marmelo. No nosso país todas as montanhas, organismos, gabinetes, ministérios e grandes calhaus, continuam simplesmente a parir ratinhos e de segunda categoria. Se o tal Lord inglês já dizia que Sintra era como "pérolas para porcos", Albufeira será a ostra maltratada já sem pérola para porcos armados em Lords. Coisas da vida. A cura para o problema que o Dr. mencionou, tem de passar pelo melhor aproveitamento dos imensos recursos humanos e do talento adormecido nos mesmos; isto para não me tornar chato e começar a divagar acerca de métodos, operadores, campanhas publicitárias, novas iniciativas, incentivos ao turismo e outras coisas civilizadas, que os congéneres nuestros hermanos já dominam há décadas. Voltando agora ao seu programa televisivo, gostei de ficar elucidado quanto ao bovino no antigo brasão da cidade, contudo, e a despeito do seu real peso histórico, tal simbologia poderia ferir algumas susceptibilidades, pois em plena época alta a proliferação de vacas loucas é muito elevada. De referir ainda a sua saudosa menção ao "arco do triunfo" do Eng. Duarte Pacheco, cai sempre bem, homem visionário e talentoso. Dando finalmente os trâmites por findos, enquanto não se organizam circuitos de visita aos pontos de interesse histórico-cultural, o turismo por cá vai-se valendo do sol que sempre gosta de nós, da natureza (a que ainda está intacta) que fala por si e jágora, do calor da alma lusitana pela sua original forma de se expandir. Onde é que existem na Europa pescadores-exímios-barmen-excelentes-cozinheiros-cantadores-recitadores-machos-comquecas-a-granel? Sermos únicos é a nossa mais valiosa riqueza.