22.1.09
moderado com um MONTECRISTO bem aceso
Nada me pode impedir o conforto desta sala
mesmo sem ti, agora que te deitas longe.
É bem certo, o Mundo poderia acabar
mas eu ficaria sempre aqui. Mesmo.
Acredito que os meus filhos estejam bem
malgrado não estarem nesta sala.
A família, bem vês, não me sai da cabeça.
E a sala sempre a casular-me.
Creio que eu e esta sala já tenhamos
uma relação de sedução mútua e fatal.
Ela vazia quando não estou e
eu perdido quando não me encontro nela.
Sem visitas anunciadas
sem assunto proeminente
sem futuro previsível,
eu e a minha sala.
Intemporais. Inúteis. Perversos. Fiéis.
A sala ameaçou suicidar-se se eu a falhar várias noites.
Eu compreensivo e solidário, fico por cá.
Nada disto que digo tem a eventual erecção que te atraia
mas também nunca mais te quis nesta sala.
E mesmo que te quisesse, tu nunca estarias, pelo menos na sala.
A sala detesta-te. Compreendo-a. Tu és mais de quartos.
Minguantes da última vez.
Mas a última vez é sempre a imagem que fica.
Meu Deus, como fodemos bem. E foi na sala.
Mas ela não te perdoa.
Eu tentei, tentei, tentei e esqueci tudo.
Agora que me esqueci
já nem sei o que tinha a perdoar.
Deus, é claro, nunca teria de ser para aqui invocado nesse preciso instante.
Estamos todos perdoados portanto.
Exceptuando a sala que nunca mais te quer ver por cá.