27.2.08
Maria Bethânia -
porque acabei de comprar um cd desta senhora, porque há muito não ouvia este delicioso desempenho em versão feminina, porque quero dedicar a coisa aos que me rodeiam na vidinha quotidiana, porque será sempre um dos poemas da minha vida, porque me faz bem e espero vos saiba bem, porque me apetece e porque sim...
20.2.08
Desejo incoerentemente o fim,
a agonia da impossibilidade,
a silhueta mórbida das estátuas...
A agonia perfuma os gestos inúteis
onde se revela o corpo.
A derrota cumpre-se com um rigor medonho.
Uma luz fatal
jorra pela oblíqua cavidade do vício.
Uma atmosfera lenta corre abundantemente
pelos corredores estreitos da perdição.
A recusa, a perfeição, o além...
Pressentimento glorioso, êxtase roxo.
Amarga hesitação, que vai rompendo
a vagarosidade do destino.
Eduardo Paz Barroso
in "Arco-Iris V"
1978
15.2.08
13.2.08
Richie Havens - Freedom/Motherless Child
Freedom freedom
sometimes I feel
like a motherless child
... Pois assim acabei noite de ontem, a minha guitarra ficou com menos uma corda e acordei hoje um pouco rouco... A sensação, de me sentir por vezes orfão quanto à liberdade, mantém-se apesar do exorcismo realizado...
12.2.08
Eu, armado em guru às onze e meia da noite, dou-vos este preciosismo: Sabem onde está uma boa vida? Onde a encontrarem... Mas encontrem-na deveras, não finjam que já a encontraram, ou mesmo pretendam que o sabem há muito de modo a não procurarem mais.
9.2.08
Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e
sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos
de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de
dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é
capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se
lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo,
enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da
sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional,
reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (…)
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta ate à medula, não
descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem
carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida intima, descambam
na vida publica em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda
a veniaga e toda a infâmia, da mentira a falsificação, da violência ao
roubo, donde provém que na politica portuguesa sucedam, entre a
indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis
no Limoeiro (...)
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de
quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela
abdicação unânime do pais, e exercido ao acaso da herança, pelo
primeiro que sai dum ventre - como da roda duma lotaria. A justiça ao
arbítrio da Politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela
saca-rolhas;
Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes
(...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido,
análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como
duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar
disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos
duma vez na mesma sala de jantar.
Vá lá, encosto um esgar ao teu
não somos famosos e a fotografia até serve
bem no fundo faz sentido que assim seja
nada pode tirar ou acrescentar
será vista pelos netos e bisnestos
e portanto pousemos.
Ocorre-nos este tempo agora mesmo
nem mais nem menos
e sabendo isto como então
não pousar?
Estaremos à vontade depois
libertos da pose
afundados no que somos
fotografados e silentes.
Faz de conta que existiremos
felizes posteriormente
lindos e com propósitos e galhofando
e contudo é só isto afinal.
Amanhã já não será dia de tirar fotografia tardia
e hoje esgota-se já de momento
ao ponto de só sobreviver a fotografia.
Somos afinal isto mesmo
em pose de para sempre
e nada acrescenta qualquer coisa
ao ser e ficar fotografado.
Vá lá, que é domingo
vá lá, que as crianças fazem birra
vá lá, que o nosso amor pode ter morrido
vá lá, que a fotografia ficará...
7.2.08
Tentemos alinhavar o que se seguirá com lógica e discernimento. Falhados estes não interessa sequer começar coisa alguma. Ponham-se de parte as emoções retardadoras e enevoantes, ponha-se de parte a crueldade das vertentes racionais mais puras, abstenham-se o pragmatismo e a sacana da mania competitiva. Nada faz sentido ao ponto de se querer morrer apaixonadamente por isso mesmo. Nada faz sentido sequer. Meu pai jogava poker, roleta e black-jack. Liberal, libertino, liberativo. Aventureiro da liberdade, coisa difícil e de princípios no seu tempo. Criou-me. Mal ou bem cá estou. Minha mãe não é uma sumidade em nenhum domínio. Velhota linda do caneco, embora me aborreça com a lenga-lenga das peúgas e da loiça por lavar. Mas declama sempre poesia muito sua, guardada numa gaveta da sua alma. Ainda agora me atura. As pessoas são simplesmente símbolos que não sabem o que significam. Socialmente? Deixem-me gargalhar. Únicos porque irrepetíveis. Não fundamento na matemática nem na biologia. Simplesmente réstea de filosofia de pacotilha, sem fancaria mas com vinho tinto. Tive um professor apelidado de fascista. Tive uma professora apelidada de progressista. Já morreram. Não sei o que as pedras tumulares ditam do assunto da sua vida.Tenho um computador portátil que me fode com actualizações de modo a que eu pare repetidamente todo o processo criativo. Eu não me chateio mas incomoda. Será que a Microsoft tropeça na balbúrdia da criatividade com fins inquisitoriais? Este vinho tinto é óptimo. À antiga com p de palato. Acordam-se estas coisas linguísticas à revelia dos mais emprenhados utentes da mesma língua, e até eu com tantas réguadas da professora primária não sou chamado para opinar o facto. Diria que está mal mas não discuto mais. Siga sem o p. P de problema é o vinho estar a acabar. Aceleremos portanto. O que o mundo nos dá? Matéria prima. Culpados do que nos acontece? Sem dúvida. Frutos inacabados de árvore gigantesca em fermentação acelerada. “Porquê tantos? Para quê tantos?”. Já o perguntei sem ter recebido medalha ou prémio pela acutilância. Mesmo fazendo quatro filhos numa pátria a apodrecer de velhice, também não tive incentivo por parte do poder. Paradoxos. E eu que o diga. Escrever até tem o seu interesse. Eleva-nos a omnisciência ao nível de viciados em palavras cruzadas. A arte já não precisa de ousar, tem apenas de escarrar, defecar e sangrar. O Mundo? Quem lhe carregou no botão do play? Podia começar agora mesmo um poema. Foda-se, um poema! Mas já não tenho vinho. Um reino frágil este. Sem adega. Triste portanto e limitado. Posso ainda tropeçar nos dois posts anteriores e dar como consumada a resposta aos seus comentadores. Amanhã estou de folga. Posso conduzir a 200km na via do infante ou fumar cigarros escondido num canto dum restaurante. Posso até disfarçar-me de cigano e vender livros de reclamações contra a ASAE nas feiras disponíveis Mas já não me dá gozo. Tornei-me responsável sem sabor, emoção ou ideal. Já não sei rir e desaprendi a ideia de chorar. E agora, que o vinho acabou, vou fazer zapping na TV para ver se vos encontro a todos por lá... Vai ser uma boa festa!
6.2.08
3.2.08
2.2.08
Aniquilado por todos os que criaram mais do que sonharam, ultrapassado pelos que sonhararam mais do que criaram, e por todas essas mesmas gigantescas formas de ser e outras coisas demais, só posso dizer aos meus filhos: sejam seguros do que fazem, sejam lindos no que querem, sejam um passo à frente e em frente marche...